18 de julho de 2007

Quem vê a RTP Internacional com alguma regularidade certamente que já reparou num conjunto de programas sobre os portugueses espalhados pelo Mundo que dão pelo nome de Europa Contacto, Brasil Contacto ou Estados Unidos Contacto (o nome varia consoante o local onde é produzido e deve haver, pelo menos, meia dúzia de programas sobre diferentes regiões). Certamente que já reparou, também, nos constantes atropelos à gramática, razão que aqui me traz. Bem sei que a RTP Internacional se destina aos emigrantes (ou, sobretudo, aos emigrantes), e poucos emigrantes se ralarão com a gramática — ou, sequer, terão reparado nas barbaridades que volta e meia se dizem. Contando que a bola role e as novelas passem a horas, o resto interessa pouco ou nada. Mas a questão deve ser levantada na mesma, pelo que eu pergunto: não será um dos objectivos da RTP Internacional preservar a língua portuguesa? Que tal a televisão do Estado assegurar que os seus colaboradores falam em português escorreito?

16 de julho de 2007

Não há volta a dar-lhe: o resultado do PSD em Lisboa é humilhante. Humilhante para o candidato Fernando Negrão, e humilhante para o PSD. Humilhante, ainda, para todos os políticos que se preocupam com a abstenção. Enquanto os candidatos às autárquicas lisboetas se mobilizaram em força e em número (12 candidatos), os eleitores também se desmobilizaram em força e em número (62,61 por cento de abstenção). Não vale a pena perder tempo a explicar o sucedido com as desculpas do costume (o calor e as férias no Verão, a chuva e o frio no Inverno, o fim de semana prolongado ou o Sporting-Benfica o resto do ano), que as razões estão à vista de todos. Haja humildade para as assumir que é já um bom começo.
Não é verdade que Sá Fernandes esteve «muito próximo do que conseguiu há dois anos», como diz o Daniel Oliveira. O candidato do Bloco obteve, em 2005, 22.342 votos, contra 13.348 obtidos agora. Basta fazer as contas para concluir que Sá Fernandes perdeu quase metade dos votos.

13 de julho de 2007

Como lembrou o João Gonçalves, isto de os candidatos à Câmara de Lisboa fingirem que são cidadãos como os outros, que têm um dia a dia semelhante aos habitantes da capital, que frequentam os transportes públicos e vão ao mercado, chega a ser obsceno. Pena é que os eleitores premeiem o circo em vez de o punir.

11 de julho de 2007

Interessante a entrevista de Michael Moore à CNN, especialmente a parte em que ele diz ser verdade tudo o que disse em Fahrenheit 9/11 (isto depois de na época em que a fita foi distribuída ter admitido tratar-se de um documentário ficcionado). Está visto que um aldrabão dificilmente deixa de o ser.
Peter Schlör
Selbst

10 de julho de 2007

Há uma coisa que nunca entendi: se esta gente anseia pela morte, por que razão faz tudo para escapar dela? Por que motivo se disfarça para salvar a pele, ou usa inocentes (mulheres e crianças, no caso) como escudos para se proteger? Há aqui qualquer coisa que não bate certo.

9 de julho de 2007

António Guterres admitiu que «a chamada guerra das civilizações (…) está aos poucos a ganhar força no mundo» (entrevista ao Público/RR). Mais: segundo ele, agudiza-se «um conjunto de conflitos sem solução a curto prazo que têm ajudado a criar este clima de confrontação, que não é apenas militar mas entre as sociedades.» A coisa não é uma evidência de agora (apesar de muitos continuarem a fingir que não vêem), mas já não é mau que o ex-primeiro-ministro comece a chamar os bois pelos nomes.

6 de julho de 2007

É evidente que a maioria dos muçulmanos não é terrorista, mas também não se pode ignorar que (quase todos) os terroristas são muçulmanos. Como se acaba de ver com os atentados falhados de Londres e Glasgow, a tese de Oriana Fallaci continua actualíssima. A tese e os factos que a sustentam, que não mudaram rigorosamente nada. Por exemplo, onde estão os muçulmanos moderados, que nunca se ouvem nestas ocasiões? Se eles são a maioria (não duvido, sequer, que sejam), por que agem como se não fossem? Não poderiam aproveitar os acontecimentos de Londres e de Glasgow para condenar, de forma clara e inequívoca, actividades daquela natureza, e dizer alto e bom som que o Islão não é assim? Confesso que nunca percebi por que razão se remetem a um silêncio ensurdecedor sempre que há atentados (ou tentativas de atentados, no caso) cometidos em nome dos valores em que acreditam. Já quando se queixam de estarem a ser olhados com desconfiança ou a serem discriminados, ouvem-se perfeitamente.
De repente, graças aos casos Charrua e de Vieira do Minho, o país descobriu o bufo. É o que se conclui quando se ouve o que por aí se diz de tão deslumbrante figura, pelos vistos um espécime raríssimo — e ainda mais difícil de encontrar. Serei só eu que vivo rodeado deles?
Absolutamente recomendável a entrevista de Zita Seabra à RTP, que acabei de ver aqui. Recomendo, também, o livro, que lerei mal tenha oportunidade.

4 de julho de 2007

É provável que a Oposição exagere quando diz que o Governo é «intolerante», «autoritário» e «arrogante», que pratica a «perseguição política» e instalou um clima de «claustrofobia». Só que, como se vê com mais este caso, há razões para protestos. Primeiro, porque a bola de neve parece imparável, pelo que é provável que outros casos surjam à boleia dos já conhecidos. Depois, porque os factos não podem ser desprezados. Claro que nada disto é uma prática exclusiva deste Governo, como alguns pretendem fazer crer. O expediente tem sido usado por todos os governos, socialistas e não socialistas, pelo que não há inocentes. A dúvida é saber se foi usado com mais moderação, se com mais discrição.
Não há político (ou candidato a lugar político) que não se queixe da forma como a RTP trata a sua pessoa ou o partido a que pertence. Agora foi a vez de Helena Roseta, que se queixou de discriminação pelo facto de a televisão pública não lhe dar o tempo de antena que ela diz ter direito. Reparem que não digo que ela não tem razões para se queixar, pois não sei se tem. Também não me interessa por aí além a decisão da ERC, que deu razão a Helena Roseta, embora sem enunciar os seus fundamentos. O que eu quero dizer é que já não há pachorra para tanta queixa contra a RTP, e cada vez me parece mais óbvio que a RTP se tornou o bode expiatório das misérias de tudo e de todos.
Aproveitei o 4 de Julho para dormir até tarde e retomar a leitura de um romance americano. No caso, As Vinhas da Ira, um Pulitzer colheita de 1940 muito apropriado à data que se comemora e obrigatório para quem se interessa pela Route 66.
Contrariamente ao que se diz por aí, parece-me excelente o vídeo de promoção do cinema europeu. Um bocado curto, é certo, mas excelente.

2 de julho de 2007

Para o caso de alguém já não se lembrar, os últimos dias demonstraram que eles andam aí, prontinhos a matar quem cometer o crime de estar no sítio errado à hora errada. Não fosse a aparente incompetência dos sujeitos, e estaríamos agora a lamentar mais umas quantas vítimas dos fanáticos do costume.
Assente a poeira causada pela morte da «princesa do povo», a Newsweek publicou uma investigação onde se demonstrava que o príncipe de Gales era melhor do que se pintava. Mais: ficou a saber-se que o cavalheiro era infinitamente melhor que a «princesa do povo». Dez anos após a morte de Diana, mantém-se a versão que interessa. Isto é, a «princesa» é a «princesa», o «vilão» é o «vilão». Como é sabido, os factos, às vezes, só atrapalham. No caso, nem isso.
Nada do que veio a público nos últimos dias sobre a «obra» de Carolina Salgado altera uma vírgula ao que escrevi sobre o caso. E o que escrevi sobre o caso foi o seguinte: é verdade que o presidente do FC Porto mandou espancar um autarca? É verdade que Pinto da Costa foi avisado pela Judiciária de que a sua prisão estaria eminente, e que a sua residência iria ser alvo de buscas? É verdade que um magistrado lhe deu guarida no dia aprazado para a sua detenção? É isto o que está em causa, é isto o que importa saber. Que a redactora da «obra» venha, agora, mostrar-se «arrependida», não altera coisa nenhuma.
«As autoridades públicas deviam saber que o mais perigoso para a sua honorabilidade não é o respeitinho ou a falta dele – mas o riso.»