30 de novembro de 2009

MUITA PARRA, POUCA UVA. Nunca duvidei que o presidente Obama se renderia ao pragmatismo uma vez eleito, e foi isso, até ver, o que sucedeu. Foi, aliás, o pragmatismo que me levou a votar nele, como então disse e repeti. Mas já lamento que Obama não tenha visto, durante a campanha, que não poderia cumprir o que prometia, e fico-me por aqui porque parto do pressuposto que Obama foi ingénuo e não estava a mentir. Não duvido que Obama esteja a fazer o possível face ao Afeganistão e a Guantánamo, só para lembrar dois casos emblemáticos, mas é bom não esquecer que ele prometeu muito mais que o possível. Até ver, Obama mandou para o Afeganistão 20 mil soldados e anuncia mais 35 mil, e Guantánamo continua por fechar. Isto para não falar de política caseira, onde ainda não fez nada que se visse. Tirando os discursos (sempre brilhantes, sempre muito aplaudidos), a administração Obama salda-se, até ver, por uma mão cheia de nada.

27 de novembro de 2009

26 de novembro de 2009

BOAS NOTÍCIAS. Isto, para mim, que utilizo maquinetas de leitura electrónica com alguma frequência e não resido em Portugal (onde me seria mais fácil desencantar um livro de um autor português ou traduzido em português), é uma boa notícia. Além de esperar que a ideia seja bem sucedida, faço votos para que outras editoras sigam o exemplo. Para quando, já agora, edições decentes dos clássicos portugueses em formato digital? Digo decentes porque o que anda para aí roça o insulto.

24 de novembro de 2009

NOTÍCIAS QUE NÃO INTERESSAM. Goste-se, ou não, parece-me evidente que o facto de a presidente do MIT ter dito, num seminário que hoje decorreu em Lisboa, que a instituição que dirige está «muito impressionada» com a estratégia de investigação e inovação seguida por Portugal e manifestado o desejo de que os EUA possam aprender com o exemplo português, é notícia. Passaram algumas horas sobre as declarações da senhora, e ainda não vi qualquer notícia nas edições em linha do Público e do Sol. Já disse que não simpatizo com este Governo e com quem o dirige, mas ainda simpatizo menos com o «jornalismo» que faz de conta que não é notícia o que claramente é notícia.

23 de novembro de 2009

O NIN DE MARCELO. Vasco Pulido Valente escreveu, há dias, que acha «inquietante» não se saber o que «pensa» Marcelo, nem o que Marcelo quer «para ele e para o país». Como logo se apressaram a dizer, o facto de Marcelo não ter «ideias para o país» é uma questão de somenos, e até nem ao próprio Vasco Pulido Valente, apesar da retórica, incomodará por aí além. Inquietante será se Marcelo chegar a líder do PSD, ou, pior, a primeiro-ministro. Não pelas ideias que não terá, mas por nunca ter demonstrado vocação para liderar um partido político ou ser primeiro-ministro. Marcelo gosta demasiado do jogo político para se deixar manietar por um cargo, por muito apetecível que seja, pois sabe melhor que ninguém que a sua margem de manobra é maior como comentador político do que teria como líder partidário ou primeiro-ministro — e como comentador político jamais será penalizado por eventuais erros como seria penalizado como líder ou primeiro-ministro.
ESPIÕES. Imperdível o livro de Luis Fernando Veríssimo que vai ser editado em Portugal no final do mês, como se pode ver por este extracto publicado no Público.

20 de novembro de 2009

SÓ PARA FAZER INVEJA. Salvo problema maior, estarei, logo à noite, na primeira fila para ver o senhor da foto, que se fará acompanhar, de novo, por Gary Peacock e Jack DeJohnette. Trata-se do meu quarto concerto de Jarrett, sempre com a mesma formação, mas que volto a encarar com um entusiasmo como se fosse a primeira vez. Dizer o quê sobre Jarrett que já não tenha sido dito ou que não seja um lugar comum? Apenas lamento que nunca o tenha visto em concertos a solo (Tóquio, Colónia, Viena, Paris, Milão, Munique, Berlim, etc.), cujas gravações não me canso de ouvir.

19 de novembro de 2009

JORNALISMO. Como diariamente se constata, os media passam a vida a dizer, a propósito do que interessa e do que não interessa, que nos estão a dar uma notícia em primeira mão, que tiveram acesso privilegiado (ou exclusivo) a determinado assunto, que estão a transmitir em directo um acontecimento sem que se vislumbre o que a circunstância acrescenta à notícia. Que interessa aos leitores (ouvintes, telespectadores) que determinada notícia lhes esteja a ser dada em primeira mão, em exclusivo, ou em directo? Quando é que os jornalistas deixam de falar uns para os outros e começam a falar com quem se espera que falem?

18 de novembro de 2009

ESCREVER ROMANCES. De manhã escrevi a primeira frase, ao fim da tarde já ia na quarta versão, à noite abandonei-o. No dia a seguir confirmei o óbito: romance que começa assim, não se aguenta nas pernas. Pena que a «receita» não seja seguida por alguns best sellers que para aí andam.
TRÊS INQUÉRITOS, 3. Não sei se repararam que o Ministério Público instaurou três inquéritos (repito: três inquéritos) destinados a saber quem violou o segredo de justiça no caso «Face Oculta». Não me recordo de lhe ouvir dizer que o caso irá «até às últimas consequências», «doa a quem doer», mas não é preciso para se perceber que o assunto das escutas está morto e enterrado.

17 de novembro de 2009

REAL E VIRTUAL. A ideia de que os media estão ao serviço dos governos, de só haver um ou outro jornal ou TV independentes que os governos tentam calar, é um argumento mais que estafado. Há jornais (e jornalistas) que fazem fretes ao Governo? (Continuar a ler aqui.)

13 de novembro de 2009

LADRÃO ME CONFESSO. Não sabia que os livros de Miguel Esteves Cardoso andam por aí, ao alcance de um clique, mas o próprio Miguel encarregou-se de o revelar na sua crónica de hoje (link apenas disponível a pagantes). Assim sendo, e porque considera «uma honra» ser «pirateado», acabo de descarregar O amor é fodido. Devo acrescentar que é o primeiro livro que roubo, embora suspeite que a sensação é menos excitante do que seria caso o roubo fosse numa biblioteca e não um «roubo virtual», ainda por cima estimulado pelo próprio dono. Acrescento em minha defesa o facto de morar no estrangeiro, onde os livros portugueses são difíceis de encontrar e os portes de correio os tornam caríssimos.
RIDÍCULO. E se Fernanda Câncio deixar de ser namorada do primeiro-ministro? A Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas também irá reunir-se para decidir se Câncio deve, ou não deve, ser tratada por ex-namorada de Sócrates? Claro que é relevante dizer que a jornalista é namorada de Sócrates caso a jornalista escreva/fale sobre política portuguesa, como será relevante dizer que deixou de o ser caso isso suceda e continue a escrever/falar sobre política portuguesa. Mas a Comissão da Carteira reunir-se por uma coisa destas, ainda por cima uma questão do senso comum? Por amor de deus.

12 de novembro de 2009

CARPENTIER. Apesar das dificuldades com o espanhol, estou a gostar de Los pasos perdidos, do cubano Alejo Carpentier, de quem já li (e gostei) El reino de este mundo. Sei que Carpentier teve um percurso político de que eu não me orgulharia, mas não misturo alhos com bugalhos. Um bom livro não deixa de ser um bom livro por ter sido escrito por uma besta, o que não é o caso. Para quando, já agora, a reedição de Carpentier em português?

11 de novembro de 2009

NÃO OLHES PARA O QUE EU FAÇO. Nada pessoal contra Manuela Moura Guedes, mas a «baixa psiquiátrica» de que está a desfrutar é um insulto aos portugueses. Estaria Manuela incapaz de apresentar o Jornal de Sexta caso o Jornal de Sexta ainda estivesse no ar? A resposta parece-me óbvia: certamente que não. A «baixa psiquiátrica», anunciada pelos jornais como coisa normal (o que é estranho), roça a provocação. Já se sabia que o atestado médico é quase tão popular como a aspirina, mas convenhamos que o esquema adoptado por Manuela não se encaixa no perfil de quem tanto diz ter-se batido pela verdade.

9 de novembro de 2009

SUSPEITAS. Que um soldado, num momento de loucura, resolva agarrar numa arma e matar a torto e a direito dizendo estar a fazê-lo em nome de Alá, compreende-se. Mas já se torna mais difícil entender quando a loucura vem de um oficial, de quem se espera que tenha a couraça mais dura e frieza em momentos de grande pressão. Ou muito me engano, ou o caso ainda vai dar muito que falar.

4 de novembro de 2009

LIVROS. Acabadinho de me chegar o quarto volume de entrevistas à Paris Review, bem como Latin American Writers at Work, colectânea de entrevistas (e não só) a escritores latino-americanos também publicadas na Paris Review, e igualmente reunidas em forma de livro. A Tinta da China acaba, aliás, de editar «uma antologia das melhores entrevistas» à Paris Review, uma selecção de Carlos Vaz Marques que se recomendaria mesmo que fosse outra. (Ver, ainda a propósito, artigo de Salman Rushdie no Times, onde cheguei graças ao Senhor Palomar.)

3 de novembro de 2009

LI E GOSTEI (8)

Countries today can choose to be prosperous. One of the most damaging myths of our times is that poor countries live in poverty because of a conspiracy of the rich countries, who arrange things so as to keep them underdeveloped, in order to exploit them. There is no better philosophy than that for keeping them in a state of backwardness for all time to come. Because today that theory is false. In the past, to be sure, prosperity depend almost exclusively on geography and power. But the internationalization of modern life — of markets, of technology, of capital — permits any country, even the smallest one with the fewest resources, if it opens out to the world and organizes its economy on a competitive basis, to achieve rapid growth.

Mario Vargas Llosa, A Fish in the Water
Os intocáveis
Pobre poeta

2 de novembro de 2009

CREDIBILIDADE. O Público assumiu que tem um problema de credibilidade e «um excesso de peso ideológico». De facto, a falta de credibilidade notou-se bastante nos últimos tempos. Mas dizer-se que tem «um excesso de peso ideológico», mesmo atribuindo a constatação à «percepção pública», já me parece um exagero.