11 de fevereiro de 2016

CARREIRA E OS EMIGRANTES. Parece que Tony Carreira é muito popular nas comunidades emigrantes, que lhes compram os discos e esgotam os concertos. Assim sendo, não se pode dizer mal da sua música nem rebater as suas opiniões — como fez o incontinente ministro Santos Silva, que no calor do caso do penduricalho que o Governo francês resolveu atribuir ao cançonetista afirmou que um dos sonhos «de sociólogo era assistir a um concerto de Tony Carreira». Pelo contrário: o Governo português deve apoiar o artista, porque sendo ele popular entre os emigrantes, não o fazer é desconsiderar esses mesmos emigrantes — e reza a lenda que os emigrantes merecem todo o respeito e um par de botas. E quem assim não pensar, fogueira com ele. Ora, isto causa-me comichão na moleirinha. Não se pode gozar com os emigrantes? Dizer que a música do sujeito não me interessa (para não ir mais longe) é uma blasfémia? Era só o que faltava. Eu, que sou emigrante, devo dizer, antes de mais, que gostava que me tratassem como toda a gente (leia-se emigrante e não emigrante). Simplificando, gostava que me tratassem sem condescendência, nem paternalismo. Sem «coitadismos», nem hipocrisia. Dito isto, Tony Carreira pode protestar contra o que muito bem entender, repetir até à exaustão que o país não o merece e só será reconhecido depois de morto (onde é que eu já ouvi isto?) que não me incomoda. Infelizmente, da música que vai derramando por aí, que involuntariamente vou ouvindo, já não posso dizer o mesmo.