8 de agosto de 2017

UM DESASTRE NUNCA VISTO. O Presidente Trump arranjou, finalmente, alguém ao seu nível. Um tal Scaramucci, a quem meia dúzia de dias de poder bastaram para demonstrar ser mais papista que o Papa. Depois de ter dito vezes sem conta amar o Presidente, coisa nunca vista talvez mesmo na Coreia do Norte, ameaçou «limpar» o gabinete presidencial, «matar» (metaforicamente, presume-se) os autores das fugas de informação — medidas que, juntamente com as declarações grosseiras à New Yorker, provocaram mais duas baixas no gabinete presidencial, que se vieram juntar ao general Flynn e a outras figuras menores, para não mencionar o despedimento de James Comey, ex-director do FBI (afastado em circunstâncias muito suspeitas), e o cada vez mais fragilizado Jeff Sessions, ministro da Justiça e procurador-geral, que depois de ter sido obrigado a afastar-se da investigação russa tem vindo a ser enxovalhado pelo Presidente sem que se perceba por que não o demite ou Sessions saia pelo próprio pé. Dez dias depois, Trump mudou a agulha, e Scaramucci já era. Agora estamos na fase do detector de mentiras, que a Casa Branca pondera usar como forma de acabar com as fugas de informação, que a concretizar-se levaria a gente que rodeia o querido líder a humilhar-se ou, se tiver coluna vertebral, a demitir-se (esperemos que o polígrafo não se aplique ao Presidente). E da Trump News, uma coisa inacreditável, própria de quem não tem um pingo de vergonha na cara e que não ocorreria nem ao jumento que manda na Venezuela. E hoje mesmo a cada vez mais atrevida Coreia do Norte, que o irresponsável que nos calhou em sorte perigosamente trata com a subtileza de um elefante numa loja de porcelanas. Tudo isto em seis meses e pouco, durante os quais a grande bandeira de Trump — acabar com o Obamacare — falhou três vezes, e o resto das medidas continuam em banho-maria ou encalhadas nos tribunais. Prognostiquei, na primeira hora, que Trump seria um desastre, e muitos pensaram que exagerei. Desculpem a presunção, mas hoje, face ao que já se conhece, se de alguma coisa me podem acusar é de ter sido excessivamente modesto.